Texto desconhecido

A madrugada parece ter cochilado e as horas aqui não passam. Tudo escuro e nada ouço além do tic tac impaciente do único relógio da casa. Perdida em meus pensamentos incertos retorno o tempo e até avanço alguns anos. Refaço ilusões perdidas e arquiteto outras expectativas. Não suporto fechar os olhos. Ignoro as cobertas frias e nada parece mais animador que admirar o vazio pela janela. Não há pessoas, não há cães, não há luzes e não há você no asfalto seco lá fora. Surpreendo-me com o rugido asco que invade o ambiente e com um sabor amargo roça minha nuca. Fujo para debaixo das cobertas novamente. Eu não quero de volta a companhia da solidão, que não parece se importar com a minha rejeição. Escondo-me, sem sucesso, por entre os lençóis e, logo, ela me alcança. Resta-me, então, acomodar o rosto no travesseiro e encarar de frente a solidão. Juntas, tentamos decifrar o final de algumas histórias que não nasceram para terem finais. Às quatro da manhã ainda alimento alguma memória e volto com desconfiança até você. E já não encontro mais os livros no lugar. Penso se eu ainda estivesse aí, você cantaria uma canção para eu dormir? Mudaria a estante de lugar ou me contaria de novo uma história inventada? Eu sei, se estivesse aí, o timbre das músicas seriam outros, não existiria o tic tac do relógio e o fim da história teria outro ritmo. Mas eu quis perder o caminho de volta. Foi proposital quando fechei a porta e joguei a chave do outro lado da cidade. E, quando resolvo me conformar com sua ausência, o dia amanhece e percebo que não deu tempo de fechar os olhos e dormir. 

P.S: Esse texto não é meu, se você for o dono(a), identifique-se e indique o Blog, assim eu posso colocá-lo como autor(a) do texto. Beijooos.
P.S 2: Adoreei o texto, perfeito!

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