A noite estava bastante fria para falar a verdade. O vento vindo do oeste tornava a minha blusa de frio insignificante, impulsionando-me a querer chegar o mais rápido possível em casa. A única coisa que me fez permanecer ali, é claro, foi o calor – que ainda me mantinha um pouco aquecida – emanando da pessoa ao meu lado. Pedi que ele se sentasse junto a mim, e falei-lhe que quanto mais pessoas estiverem perto de nós menos sentimos frio. Ele sorriu um riso presunçoso, afirmando que era lógica essa assertiva. Conversamos sobre pontos esquecidos de nossas vidas, tentando por um breve momento fingir que mantíamos certa amizade. E o pior é que descobrimos que mantíamos a tal amizade. O tempo foi passando despercebido como nos primeiros dias, nem parecia que por duas horas conversávamos normalmente sobre os rumos que nossas vidas tomaram. Falei que já era chegada minha hora, deveria ir para casa. Ele se levantou, eu me espreguicei e logo em seguida levantei. Não posso negar que caminhar ao lado dele e lembrar coisas e das coisas, fez-me querer reviver certos momentos. Mas isso estragaria totalmente os progressos do esquecimento. Conversamos mais um bocado até chegarmos à minha casa, nos abraçamos e despedimos. Porém, enquanto ele passava pela porta pensei: “não acredito que foi só isso”. Então, puxei-o junto a mim e o beijei. Sim, descobri que ainda sei beijar. Quando retornei a falar perguntei se ele estava namorando alguém, ele disse que sim... A consciência. Ele havia prometido que só beijaria outra pessoa quando estivesse de fato namorando. Ignorei essa última parte e dei mais um beijo nele, então, parei. Daí ele se foi sem dizer praticamente nada de útil. Apenas fechou a porta e se foi. E eu fiquei aqui, pensando no quanto eu acertei quando terminei com ele da última e primeira vez.

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