As facetas da Democracia


Existem certos tipos de comentários que me levam a questionar em que espécie de "mundo encantado" algumas pessoas têm vivido. Um país onde a igualdade racial, de sexo e de gênero foi finalmente alcançada. Sem corrupção, sem pobreza, sem marginalização. Tudo funciona na mais perfeita ordem. Não existe negro, pardo, índio, branco, quilombola, cigano, entre outros povos e raças, não existe história, todos somos irmãos de sangue, regidos pelo amor de Cristo e pela graça dos homens.

O que me enoja não é especificamente o fato de o atual presidente não ter nomeado nenhuma mulher para os ministérios, mas certos comentários infantis e ridículos que menosprezam esse fato e dispensam debates sérios.

À priori, adianto que não sou coxinha, petralha, nem idiota. Se ajudar, também não sou pariceira de ninguém.

Não foi preciso pesquisar por mais de 5 minutos fundamentos para escrever esse texto, na realidade, se qualquer um de vocês pesquisar no Google: "A igualdade feminina na politica como fator de fortalecimento da democracia", um mundo de artigos e livros vai aparecer para ser analisado por qualquer mente soberana e ilusória que acredita que no mundo da política todos são apenas pessoas.

A Constituição, no seu art. 5º, I, dispõe que: "homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição".

Essa é a parte que fala da expectativa.

Agora vamos para a realidade:

- Embora cerca 51,7% do total do eleitorado brasileiro seja composto por mulheres, a participação destas no parlamento é menor do que a metade da média mundial, 9% na Câmara e 10% no Senado.

- Segundo o site da Câmara dos Deputados federais, um estudo da União Interparlamentar, ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), colocou o Brasil em 120º lugar em um ranking da proporção de mulheres nos parlamentos, o que significa estar atrás de países islâmicos como Paquistão, Sudão e Emirados Árabes Unidos.

- O Índice Global de Desigualdade de Gênero de 2015 analisou 145 países, entre eles o Brasil que ocupa o 85º lugar.

- 0% de mulheres na Esplanada (governo de Michel Temer).

Aí você me pergunta: O que a não inclusão de mulheres nos ministérios traz de ruim para o nosso país? Eu respondo: O retrocesso de uma democracia que ao menos chegou a efetivar-se.

Aí eu pergunto: Onde está a igualdade? Todos nós sabemos que determinados cargos apenas são alcançados através de apoio político e financeiro, seja ele qual for. Os partidos, hoje, têm a obrigatoriedade de atingir a cota de 30% de participação das mulheres na chapa, por que é tão difícil atingir essa cota? Será que as mulheres não se interessam por política? Será, então, que as mulheres não nasceram para a política? Ou será que a mulher está sendo excluída da política? Por que a maioria dos candidatos eleitos são homens? Será que a imagem da mulher, refletida ali em Marina Silva, por exemplo, é vista como o elo fraco da relação? Então, apenas mulheres com características fortes seriam as indicadas para assumir cargos públicos? Será que a história da mulher, no Brasil, subjugada e submissa, teria alguma relação com isso?

Eu poderia falar muito mais sobre o assunto, mas os que realmente estão interessados em entender, pela primeira vez, o que significam palavras como democracia, igualdade e justiça social, indico que: ou pesquise antes de falar ou simplesmente não fale.

Encerro com um texto fantástico que encontrei:

"(...) este trabalho pretende contribuir para o debate discutindo o caso do Brasil em perspectiva comparada, uma vez que o país está completando em 2013 um quarto de século de sua segunda experiência democrática desde que se tornou uma república em 1889. Atualmente a participação das mulheres no parlamento brasileiro é menor do que a metade da média mundial, ou seja, menos de 9% contra 19,4% e, no conjunto dos países latino-americanos, coloca o país em penúltimo lugar, ou seja, abaixo de todos os demais países com exceção do Panamá. Enquanto a cultura dominante, o comportamento social e a divisão tradicional de tarefas entre gêneros envolvem discriminações e tratamento desigual para as mulheres, na estrutura institucional da democracia brasileira não existem restrições formais contra elas. Mas pesquisas recentes mostraram que a despeito da existência de uma lei de cotas, destinada a corrigir a tradicional exclusão feminina da política, as diferenças efetivas de tratamento entre homens e mulheres pelos partidos políticos continuam afetando o acesso delas ao financiamento de suas candidaturas a postos eletivos e, dessa forma, impactando negativamente o seu desempenho eleitoral (Meneguello, Mano e Gorsky, 2012; Speck e Sacchet, 2012; Miguel e Biroli, 2009; Grossi e Miguel, 2001). A questão relevante consiste, então, em saber se as implicações desse impacto se limitam às consequências da exclusão política para as mulheres ou se elas repercutem sobre o funcionamento do regime democrático como um todo." (SANCHEZ, Beatriz Rodrigues; MOISÉS, José Álvaro. Representação Política das Mulheres e Qualidade da Democracia: O caso do Brasil)

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