Amor cênico


Ou o espetáculo está começando ou já acabou. Os ingressos foram vendidos, as apostas lançadas, o palco montado, os atores preparados, o roteiro acabado e o show começou.

No mundo teatral, muitos são os detalhes que devem ser observados, desde uma simples projeção de luz à entonação ou construção vocal do artista ante o público. Cada expressão, por mínima que seja, é interpretada pelo público, com ou não aceitação, desde uma visão sobreposta da própria realidade vivida ou representada pelo ator. Controlar a veia artística que há dentro de cada expectador, nesse momento, chega a ser difícil, afinal, faz quem quer, todavia, acha quem pode. E são os "achismos" que compõem esse momento do espetáculo, o ser ou dever ser dos fatos e sentimentos apresentados em cena. E são nesses casos que o sentimento fala mais alto, comove, contraria, pressiona, liberta ou aprisiona. 

Estar no palco é viver cativo a uma realidade paralela, falsa, mas, igualmente real, muitas vezes mais verdadeira e forte que o próprio universo físico e material. E você se conecta, mesmo que por um breve instante, a tudo aquilo que ali é contracenado; escolhe os mocinhos, os vilões, traça diretrizes para o futuro dos personagens, cria laços. No entanto, o enredo se desenvolve e chega a hora de por à prova o destino dos personagens. Apresentando-se, assim, a dúvida e a certeza daquilo que pode ou não acontecer. E é quando as cortinas se fecham, as luzes se acedem, a plateia aplaude, os atores cumprimentam o público e este último, extasiado, demora a entender que tudo não passou de um espetáculo. Limpa dos olhos as lágrimas e aplaude a maestria de toda uma equipe que se esforçou por tornar aquele momento especial. O único problema, depois disso, é diferenciar as partes reais das inventadas ou, ainda, ter coragem suficiente para ir atrás da verdade real por trás de toda a encenação.

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